09/01/2013

Gardennier - Capítulo 3

Capítulo curto, só porque não me aguentei e tive que escrever alguma coisa
Nier - Capítulo 3 - As coisas cujas não consigo me lembrar...

 A chuva batia sem piedade nas janelas de vidro, enquanto eu continuava a costurar com cuidado meu próximo criado. Era trabalhoso e me gastava muita energia fazê-lo, mas seria bom ter algo que me ajude a tomar conta desse lugar. Era minha primeira vez fazendo um, além de não saber onde aprendi como, eu apenas...Sei. E isso me irrita, porque tudo em toda a minha existência tem sido assim. Coisas vagas. Sabendo muito e pouco sobre onde aprendi. Apenas saber é irritante.



 Olho para a porta, me sentindo uma retardada. O garoto que havia vindo aqui e prometido voltar não voltara, e já fazia alguns dias. Sinto minha raiva fervilhar. Eu não sei porque havia me rebaixado o suficiente para pedi-lo para voltar dessa vez, e ele não fazê-lo.

Idiota.

 Coloco algumas sementes dentro do corpo semi-pronto, finalmente terminando a costura da cabeça após isso. Levanto meu invento, admirando o bom trabalho que fiz, e o coloco na janela. Amanhã começará o verdadeiro trabalho, onde farei-o ter vida.

 Pego minha boneca de porcelana, e vago pela casa, sem rumo aparente. Eu só sabia que não iria para o andar subterrâneo.

 Começo a me sentir mal, só de pensar em ir naquele andar, além de uma sensação esquisita. Eu não gosto disso, porque assim como todas as outras coisas, eu apenas sei que não devo ir lá, nunca.

 Com um suspiro, volto para a sala principal, observando a chuva pela janela. Desde que Hideki aparecera aqui da última vez, eu tenho notado o quão solitária eu me sinto.

Maldito, nunca deveria ter aparecido aqui. E eu deveria tê-lo matado da primeira vez, quando tive chance.

 Sento no chão, com as costas contra a parede e abraço minhas pernas. Me sentia uma criança carente de atenção. Isso é ridículo. Absolutamente ridículo.

 A porta abre violentamente, me assustando. Vejo um Hideki absolutamente ensopado por causa da chuva e respirando pesadamente, como se tivesse corrido uma maratona. Algumas partes da sua roupa estavam sujas de barro, também.

- Ah, merda - Ele resmungou com raiva após fechar a porta, e se sentou no chão - Chuva maldita.

 Apesar de querer fuzilá-lo e não olhar pra ele, o mesmo estava fazendo uma cara tão engraçada que não consigo evitar de rir. Vejo o rosto dele enrubrecer por causa de minha reação, enquanto desvia os olhos para a janela e coloca uma mão atrás da nuca.

- Desculpe por não vir antes, como prometi...Minha mãe ficou louca quando eu deixei escapar que vinha pra cá, só hoje eu consegui fugir de casa. E justo hoje, tem que estar chovendo - Ele disse, torcendo o nariz em desgosto.

 Então ele queria vir...Ele queria vir me ver, mas não podia.

 Sorrio, enquanto olho para minhas mãos. O sentimento de solidão que eu sentia antes se dissipara assim que ele entrou. Era irritante depender dele para me sentir um pouco melhor, mas...De algum jeito, não era de todo ruim.

- Ei, Nier... - Ele me chamou pelo apelido que me dera - O que é aquilo? - perguntou, apontando para o meu trabalho que estava na janela.

- ... Não tem um jeito muito fácil de explicar...Quando estiver pronto, você vai entender.

- Certo... - Ele pareceu confuso e curioso, mas assim como no caso de meu nome, não tocou mais no assunto - Mas...posso uma pergunta um pouco grosseira?

- Hã? - Fite-o. Ele parecia meio relutante em perguntar. - Eu não vou te matar por causa de uma pergunta. Fale logo.

- O que exatamente é você?

 Congelei. Eu não sabia. Na verdade, eu não tinha a mínima idéia.

Olho para minhas mãos pálidas e finas. Eu não era humana e nem estava viva, mas tampouco era um espírito. Não tenho ideia do que eu sou.

- Não sei... - Murmurei baixinho, voltando a olhá-lo, frustrada.

Hideki me fitou com culpa, provavelmente se arrependendo da pergunta pela minha reação. Mas logo depois voltou a falar.

- Você provavelmente tem algo a ver com a última família que morou aqui, já que tem o mesmo sobrenome...Se procurarmos algo relacionado, quem sabe podemos descobrir o que você é, o porque de estar aqui...E o seu primeiro nome - Ele me deu um sorriso gentil - Quer tentar? Eu te ajudo.

 Descobrir coisas...Sobre mim?

 Algo me sussurrava para não levar aquilo a diante. Mas eu queria. Eu queria saber o porque de estar aqui. Queria saber o que sou, e o meu nome. Queria que ele me ajudasse. E eu sentia que podia confiar plenamente no garoto que acabei de conhecer.

 Assenti para ele, que sorriu mais largamente e falou que não deveríamos demorar muito a descobrir.

- Ei... - Ele começou a dizer, depois de mais um tempo de conversa - Tem algum problema se eu passar a noite aqui? Tipo, eu falei pra minha mãe que eu estava indo dormir na casa de um amigo - ele pareceu sem-graça

- Claro - respondi, ainda que surpresa pelo pedido - Tem quartos que ainda estão mobiliados no terceiro andar, mas....tem certeza?

- Bom, deve ser bem melhor que ir para a casa e minha mãe me obrigar a dormir na casinha de cachorro por ter mentido - ele riu

 Ri também, apesar de duvidar do que ele disse. Mas eu estava feliz por poder passar mais tempo com ele, muito feliz.

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